Abraça-me,
Quando ouço palavras duras
Pela manhã logo cedo,
De alguém amado e irritado,
Por sua escova de dentes fora do lugar...
Abraça-me Senhor!
Quando minha filha
Corta a minha conversa
Dizendo estar de mau humor...
Abraça-me, Senhor!
Abraça-me nesta manhã quando quero aconchego,
Quando preciso de um olhar carinhoso
De uma palavra, após o silêncio da noite.
Abraça-me, quando nem lembro mais o gosto de um abraço
Abraça-me, quando a brisa de palavras belas já não sopram
Em meus ouvidos.
Abraça-me, Senhor!
Abraça-me quando tenho por companhia
Apenas Uma pia cheia de pratos
Roupas sujas a lavar
A poieira dos móveis a tirar
Abraça-me quando a canseira do dia a dia
Rotineiramente doída leva-me o ânimo e as forças.
Abraça-me, Senhor! Quando mais preciso
De um abraço, de um aconchego,
De um cuidado, De um olhar.
Abraça-me!
Abraça-me quando todos se vão
Deixando um cheiro de perfume no ar
Um rastro de poeira no chão
Toalhas molhadas jogadas nas camas
Objetos espalhados em todo canto...
Preciso do abraço que me trará paciencia
Para repetir sempre o que faço todo dia.
Abraça-me, Senhor!
Abraça-me forte! Deixa que eu chore em teu colo!
Que eu te conte minhas dores,
Meus sonhos...
Eu tenho sonhos, Senhor!
E eles nem sabem...
Não querem ouvir.
A roupa esta limpa? A comída quentinha no fogão?
A casa aconchegante? Os objetos à mão?
Isso é tudo!
Sou mãos que fazem acontecer,
Que arruma, que limpa, que afaga a dor!
Mas, uma sombra, que passa despercebida
Um dia, um mês, um ano...
O tempo passa depressa assinando embaixo
Da rotina escrita com letras que não se apagam.
Abraça-me, Senhor!
Quando me abraças a esperança é renovada
Crendo que um dia tudo vai mudar
E serei pessoa, serei vista, abraçada.
Em vez de "brigas" pela manhã,surpreender-me-ei
Com beijos e palavras ternas.
Minhas amenidades serão ouvidas por minha filha
Nosso cantinho será mantido limpo
E minhas unhas não mais quebradas
Pela vassoura
Não terei cortes no corpo por acidentes domésticos
As mãos, menos ásperas por um detergente que se repete.
As toalhas estendidas no varal
Tremularão como bandeiras, limpinhas e sequinhas.
Cabelos que caem? Serão colocados no lixo.
E Não receberei palavras injustas
Por uma escova de dentes que se perdeu.
Abraça-me, Senhor, aconchega-me forte,
Sem pressa... Posso sonhar assim...
Nos meus sonhos, posso passear com minha família,
Ir ao shopping com minha filha mais nova,
Jogar vídeo game com meu filho,
Conversar com minha filha mais velha,
Gargalhar com meu esposo.
Sentir o vento frio de uma cálida manhã,
Enquanto dirijo o meu carro pelas ruas da cidade...
Posso ir rapidinho de avião visitar minha mãe doente
Quantas vezes quizer,
Levar uma cesta para ela, recheada de guloseimas,
Presentes, carinho...
Posso ir ver minha irmã e passear com ela como fazíamos
Antigamente, "sem lenço e sem documento"...
Abraça-me, Senhor!
Como preciso do teu abraço agora que estou me sentindo
"um verme de saia"
Abraça-me, olha pra mim, ouve-me falar
Diz que sou importante e não mais uma na multidão!
Abraça-me! Tira-me desta gaiola circunstancial
Construída detalhadamente, diariamente,
Sem se ver...
Abraça-me, Senhor!
E quando fores, deixa-me um presente:
Um par de asas para voar!
(Salvador-BA,Terça Feira, 5 de Maio de 2009, 08:81 hs)
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