Eu, o SENHOR, a guardo, e cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia a guardarei. (Is 27.3)
Era Dezembro de 1972, talvez. O ano eu não sei exatamente, mas o mês, não tenho como esquecer. Era Dezembro e já respirávamos os ares do Natal. Minha mãe desdobrava-se para comprar os nossos vestidos novos. Naquela época éramos quatro: Mamãe, minha irmã, uma prima que morava conosco e eu. Tinha também o Xanico o nosso gatinho. Cada sábado, após as necessidades básicas da família, mamãe guardava um pouco de dinheiro para os nossos vestidos. Há alguns meses ela vinha fazendo essa economia.
Eu acordei cedinho naquele dia, feliz da vida. Depois da feira iríamos comprar os nossos vestidos novos na loja do Sr. Siderval.
Mamão pegou o dinheiro que havia economizado para esse fim e guardou com ela, arrumamos as coisas e partimos rumo à feira.
Armamos a banca, colocamos a mercadoria para a venda. Tudo pronto para mais um dia de trabalho. Minha mãe ágil e criativa, cuidava para que tudo corresse bem. Mas eu gostava mesmo era de ficar em baixo da banca, brincando. Ora com minha boneca, ora, fazendo croché ou estudando a minha lição da Escola Dominical. Ela sempre de olho em mim e eu não desgrudando dela um minuto sequer. Por isso eu ia para a feira. Para ficar perto da minha mãe.
Finalmente o dia chegou ao fim, mas, quando terminamos de arrumar tudo já era bem tarde e a loja já havia fechado. Que decepção!
Minha mãe me consolou dizendo que na Segunda-feira logo cedo, assim que a loja abrisse compraríamos os vestidos. E assim iniciamos o nosso retorno para casa.
Sempre era uma alegria voltar para casa. Nossa casa era simples, mas bem limpa e aconchegante. Morávamos no "Alto do Bom Jesus" longe da escola, longe da Igreja, longe da casa dos nossos amigos. Não tinha energia nem água encanada, nem saneamento básico, mas a felicidade reinava absoluta. A paz, a tranquilidade e a certeza do cuidado divino, sempre!
Voltávamos a passos rápidos. Éramos quatro mulheres sozinhas por aqueles caminhos ermos e já estava escurecendo. Digo, uma mulher, uma mocinha e duas meninas. Minha prima era metida a moça, mas eu andava mesmo era agarrada à saia de minha mãe apesar de já ter meus sete ou oito anos.Como era magrinha e muito tímida, parecia ser mais nova.
Eu tinha medo das sombras, do escuro. Mas, sentia a segurança em minha mãe e ela dizia que nada de mal ia acontecer com a gente porque Deus estava conosco. Me fazia sempre lembrar das promessas de Deus. Uma delas descrita no Salmo 91.7: "Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas t não serás atingido".
E nada nos acontecia mesmo. Lembro que um tempo, houve uma onda de roubo lá no alto. Cada dia uma nova casa era roubada. Os ladrões levavam a feira das pessoas. Raspavam tudo. Uma noite as duas casas a da esquerda e a da direita foram roubadas e a nossa permaneceu intacta.
Continuamos o nosso caminho. Chegamos em casa já era noite e antes mesmo de nos sentarmos, mamãe deu um suspiro, um "Oh, meu Deus!" e nos olhou com aqueles olhos tristes e decepcionados. Algo sério tinha acontecido. Mamãe não era de mostrar tristeza e decepção por nada. Meninas, eu perdi o dinheiro! Ela falou com a voz embargada. O dinheiro caiu. Caiu no caminho.
Ela me olhou e com certeza viu a decepção nos meus olhos. Era difícil conseguir outro dinheiro a tempo. O meu tão sonhado vestido de Natal. E agora? Eu não era de reclamar, espernear, mas de guardar tudo no peito, lá dentro.
Mas minha mãe, nunca foi de aceitar o infortúnio passivamente. Levantou-se e disse: Vou procurar o dinheiro! Se deixar para amanhã, alguém pode encontrar. Vou agora!
Como? Naquele escuro. Nada de iluminação pública, nem um poste sequer. Nem uma lanterna tínhamos! Minha mãe saiu as pressas. Fechamos a porta e fomos atrás dela. Seguimos silenciosamente pela trilha. Ouvia apenas o canto dos grilos e o balbuciar da mamãe em uma súplica sincera a Deus.
A lua aparecia lentamente no céu e começava a iluminar o caminho. E eu pensava: O que ela vai fazer? Perguntei a minha irmã: Ela sabe onde o dinheiro caiu? Não, não sabe. Em momentos como aqueles, não gostávamos de interromper a mamãe.
Ela parou. Meninas, vamos pedir para Deus nos mostrar onde foi que o dinheiro caiu.Consentimos apertando a mão dela.
Não paramos para orar, fomos andando e orando. Andando e orando.Andamos, andamos. Não lembro a distância. Só sei que andamos um bocado. Uns vinte minutos, talvês.
Mamãe passou a andar mais devagar, como que buscando reconhecer um cheiro ou um lugar. Voltou um pouco olhando para um arbusto à margem da trilha. Parou de repente fazendo-nos esbarrar umas nas outras. Abaixou-se ficando de cócoras. Sem medo enfiou a mão no arbusto, pegou algo e sacudiu uns galinhos que vieram juntos. Ficamos a olhar maravilhadas. Encontrei! Aqui está o dinheiro, dobradinho do jeito que caiu. Te agradeço, Senhor!
O caminho de volta, foi rápido e feliz. Não apenas pelo dinheiro do vestido. Mas, pela certeza da presença e cuidado divino.
Gente,
ResponderExcluirQue história linda. Chorei ao ler. Parece romance. Amém Senhor!